Precisa-se de catadores de e-lixo

Por Jorge Alexandre Machado

Existe um segmento, excluído da sociedade, que vai aos lixões separar papel, papelão, plásticos, vidros e outros objetos recicláveis para comercializar e assim obter renda para a sobrevivência própria e da família: são os conhecidos, mas ignorados, catadores de lixo.

Nem eles sabem, nem a sociedade entende, o valor que têm para a preservação do meio ambiente. Com a seleção do material, eles levam até as indústrias, para reciclagem, rejeitos que poderiam contaminar o solo e os lençóis freáticos ou ficar por muitos anos no meio-ambiente sem se degradar, como é o caso do plástico.

Mas tem uma categoria de lixo que começa a freqüentar os lixões e não faz parte dos materiais selecionados pelos catadores convencionais porque não se sabe muito bem o que fazer com esses dejetos, nem há indústrias para reciclá-los: são os e-lixos, como são atualmente conhecidos os resíduos ou sobras de equipamentos eletroeletrônicos que são descartados por estarem danificados, fora de uso ou obsoletos. Entre eles estão os televisores, computadores, Mp 3, pen drives, vídeos cassete, aparelhos de dvd, filmadoras, pilhas, baterias e uma variedade de aparelhos consumidos nos lares de um crescente número de famílias.

Para se ter uma idéia do volume de material que hoje entra no mercado e logo será sucata, só de aparelhos celulares vendidos este ano no Brasil estima-se 48 milhões, segundo projeção da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Computadores? espera-se plugar mais de 10 milhões.

De acordo com a ONG Greenpeace, anualmente, são descartados 50 milhões de toneladas de novos resíduos eletrônicos no mundo. Isso porque o ciclo de vida dos produtos está cada vez menor, ou seja, a tecnologia renova com tanta rapidez e o apelo ao consumo é tão grande, que os aparelhos são substituídos cada vez em um prazo menor.

Esses materiais no meio ambiente são prejudiciais ao solo, à água e ao ar, pelos metais pesados que contêm, tais como: o cádmio, o mercúrio, o chumbo, além dos gases como o clorofluorocarboneto, o CFC, somente para citar alguns. "Aparelhos como baterias de celular e pilhas contêm metais acumulativos como zinco, chumbo e aço que se tornam cancerígenos", declarou o químico Luiz de Souza ao Portal de Meio Ambiente. Ele ainda deixa um conselho: “As pessoas devem se conscientizar dos possíveis riscos à saúde e ao meio ambiente que o lixo tecnológico pode causar. Deve-se perder o hábito de jogá-lo por aí”.


Na Europa os fabricantes são obrigados, por lei, a recolher e reciclar equipamentos. Na Alemanha, por exemplo, os cidadãos são proibidos de jogar computadores no lixo comum. Aqui no Brasil, a maioria das empresas deixa os usuários sem saber o que fazer na hora de descartar os e-lixo.

A ausência de políticas públicas é responsável, por isso. Há mais de 15 anos, o assunto vagueia na Câmara dos Deputados e, atualmente, o projeto de lei 2061/07, do deputado Carlos Bezerra, tramita naquela Casa e estabelece critérios para a coleta, reciclagem e descarte de aparelhos eletrodomésticos, eletroeletrônicos e componentes que não possam ser utilizados. Se aprovada na forma proposta, a lei responsabilizará os fabricantes e fornecedores pela coleta, reciclagem e destino final de seus equipamentos. É claro que isso explica a demora na aprovação do projeto. Empresas e fornecedores não concordam em assumir esse ônus.

Mas enquanto se define responsabilidades e procedimentos, o que fazer com o lixo tecnológico? Os sites de leilão pela internet e as doações a instituições de caridade são uma boa forma de “despachar” os objetos indesejados. O comerciante Ademir Fernandes, 37, encontrou uma solução para ficar livre de algumas velharias eletrônicas. Ele anunciou em um site de compra e venda. "Vendi dois computadores por menos da metade do valor que eu paguei há três anos. É pouco, mas é melhor do que nada", disse no site da CIMM.

O que se conclui é que as toneladas de lixo tecnológico que vão para os aterros e lixões todos os anos carecem de seleção para posterior reciclagem. De um lado faltam catadores de lixos tecnológicos e a sua ausência é pela falta de empresas que comprem os produtos para posterior reutilização ou reciclagem. De outro falta regulamentação para que tudo isso aconteça. Só o que não pode faltar é a consciência cidadã, que mesmo em meio a essas indefinições deve encontrar alternativas que ajudem a preservar o meio ambiente e a própria saúde da população. Não se pode é achar que esse lixo seja como aquela nossa lixeira eletrônica do mundo virtual que, ao clicarmos, o conteúdo é esvaziado e os assuntos deletados sem qualquer conseqüência para o mundo real.




SUGESTÃO DE PAUTA: Lívia Dantas

Comentários

Anônimo disse…
Tenho feito o que posso, doando equipamentos ultrapassados ou mesmo revendendo em brechós aqui em Brasília. Trabalho numa empresa de Tecnologia e é preocupação constante o uso correto, armazenamento, reaproveitamento de equipamentos. Se cada um procurar informação e tomar a atitude certa, teremos uma perspectiva mais positiva de um futuro sustentável.