Surfistas de sofá

Por Jorge Alexandre Machado

Viajar de férias nem sempre é compatível com o orçamento doméstico de muitos trabalhadores. A saída, para a maioria, é se sujeitar a parcelamentos que quase sempre duram até a próxima viagem. Mesmo com todas as facilidades de crédito e de parcelamento, para muitos, ainda é inviável arcar com despesas de passagens e hospedagens, especialmente em períodos considerados de alta temporada, que geralmente coincidem com os das férias escolares.

Além disso, cresce o número de turistas solitários. Aqueles que viajam em busca de novas culturas, conhecimento e diversão, mas, desacompanhados, sentem a falta de amigos ou companheiros para compartilhar os momentos de descontração e lazer.

Isso talvez explique por que aqui no Brasil, de acordo com os dados do Ministério do Turismo, os viajantes prefiram a casa de amigos e de parentes. Lá encontram, além de abrigo, o envolvimento necessário para aproveitar bem a estada. Mas e onde não há familiares, nem conhecidos para usufruir desse aconchego?

Para superar esse problema é que surgiu o couchsurfing, ou surfando no sofá, em uma tradução livre. O surf de sofá é um serviço de hospitalidade oferecido pela internet, com o objetivo de integrar pessoas e localidades internacionalmente. Em abril já contava com mais de 500.000 membros de 226 países.

No couchsurfing, as pessoas oferecem as residências como alojamento para os visitantes cadastrados no site. O sistema avalia perfis, referências pessoais, entre outros métodos, para proporcionar segurança aos membros da comunidade. Além de ser um serviço gratuito, tanto na inscrição, quanto na hospedagem, a idéia promove o intercâmbio de culturas e de conhecimentos e permite a inclusão no mercado turístico daqueles que não têm condições de conhecerem outras localidades pelos meios convencionais.

É missão do couchsurfing participar da criação de um mundo melhor. "Fazemos do mundo um lugar melhor, abrindo nossas portas, os nossos corações e as nossas vidas", revela o site da comunidade. Acrescenta, ainda, que "o couchsurfing quer mudar não só a maneira como viajamos, mas também a maneira como nos relacionamos com o mundo".

O projeto nasceu da criatividade e percepção de Casey Fenton. Esse americano, hoje com 30 anos, em maio de 2002, conseguiu uma passagem barata para passar um fim de semana na Islândia. Após adquirir o bilhete, Fenton se deparou com um problema "o que eu faria quando chegasse lá. Ficaria em um hotel? Um albergue?". Então pensou em contatar alguém pela internet para ver "se poderia ficar com ele e dormir em sua casa". Conseguiu 1500 e-mail de jovens estudantes da Universidade da Islândia e mandou uma mensagem personalizada dizendo que estava chegando na Islândia e estava à procura de um local para ficar. Recebeu cerca de 100 respostas oferecendo hospedagem em casa. Foi assim que surgiu a idéia de um site que pudesse organizar o intercâmbio de casas para hospedagem de membros da comunidade.

Mateus Fernandes, 26, reside em Brasília e é membro da comunidade. Na página pessoal no couchsurfing, ele oferece "dois sofás macios", em seu pequeno apartamento, no plano piloto da Capital, e ainda visita guiada que costuma fazer com alguns amigos. Mateus é formado em tecnologia da informação e filosofia e declara: "adoro viajar e conhecer pessoas e suas interessantes histórias de vida".

Quem já se hospedou com o brasiliense dá boas referências. É o caso de Sérgio Morales. Na página do site, ele elogia Mateus e diz que o anfitrião procura ajudar em todas as situações, além de explicar tudo sobre a cidade. O couchsurfer agradece e diz que ele é sempre bem-vindo à Guatemala, seu país de origem. Já Mateus dá diversas informações sobre as casas onde se hospedou. Entre elas, avalia a de Livia e comenta: "Livia me recebeu em Saint Martin e, além de dar boas dicas de programas e restaurantes na cidade, tirou um tempo de folga para um encontro no carnaval local e um bate-papo na praia. Seu companheiro, Gauth, num lindo esforço de falar português e trocar uma idéia, também aproveitou sua folga pra mostrar algumas praias e curtir um bom papo".

Mas se mesmo na casa de amigos e parentes nem sempre tudo são flores, nesse sistema podem ocorrer problemas de relacionamento. Leonardo Andreucci, 25, relata um momento constrangedor que passou na Irlanda, mas acrescenta que não foi nada tão traumático:"O irlandês que me hospedou em Dublin era um pouco estranho. Ele fazia tanta questão de agradar que era um pouco inconveniente, mas acho que era o jeito dele".

No entanto, há quem de forma alguma admita oferecer o seu sofá para um estranho. Cláudia Carmelo, em seu blog Viajeaqui é taxativa: "dormir de graça no sofá de alguém cujo contato mais próximo que tive é uma foto e um perfil num site de relacionamentos turísticos... Desculpem a falta de sensibilidade, de idealismo, de romantismo, de jogo de cintura, de capacidade de ser uma verdadeira viajante free spirit... Mas eu tô foríssima!". Alega ainda "não ser tão sociável assim" e acordar de mau-humor pela manhã.

Parece que as opiniões são apaixonadas. Ou se gosta intensamente do sistema ou se rejeita com o mesmo vigor. Porém, um comentário de Angélica no site de Cláudia, talvez explique tudo isso: "O máximo do ser humano é a diversidade!!! São as diferenças que tornam nossa existência tão interessante. Por isso, Cláudia, relaxe... eu entendo vc... E já que vc perguntou, discordo de vc! Já dividi "sofá" como hóspede e como anfitriã e em todos os casos as experiências foram positivas".



SITES RELACIONADOS

http://www.couchsurfing.com/
http://www.hospitalityclub.org/
http://www.globalfreeloaders.com/

SUGESTÃO DE PAUTA: Ivy Ticiane

Comentários

Unknown disse…
Isso pode ser bem interessante, mas eu to FORAAAA!!!! Acho melho qndo não tiver dinheiro p/ viajar ficar em casa mesmo, assintindo um filme, ou ir ao zoológico etc.... kkkk

Bjus Lú
Unknown disse…
A idéia é bem legal, só que prefiro sempre viajar acompanhada, acho bem mais divertido.
Será que rola um sofa de uns 6 lugares por aí???
Anônimo disse…
Interessante modalidade de turismo, mais uma vez a Internet mostra que é capaz de unir as pessoas e não de distanciar.
Este comentário foi removido pelo autor.
Ótima idéia,meu nome é Osmar, sou de Curitiba e aceitaria hospedar pessoas do Brasil e exterior, quem tivem interesse meu email e familybuscape@uol.com.br