PESQUISA MOSTRA QUE BRASILEIRO É O POVO QUE MENOS CONFIA





Por Jorge Alexandre Machado

Algumas nações do mundo são estereotipadas pelas características marcantes atribuídas aos seus habitantes. Aqui no Brasil esses estereótipos são evidenciados em piadas, contadas de norte a sul do país. Quase todos que migraram para cá e ajudaram a construir a nação brasileira não escapam das histórias engraçadas ou não, mas que dão o tom jocoso do brasileiro, esse talvez o seu maior estereótipo mundo afora.

Conta, portanto, uma anedota popular que existe um país em que cada criança recebe uma lição paterna inesquecível. Quando ainda nem consegue andar seguramente, o pequeno é colocado em cima de uma mesa e estimulado a saltar para os braços do, aparentemente, afetuoso pai. Após reunir a coragem suficiente, a criança se lança e, incrédula, vê o que deveria ser o seu maior protetor se afastar e deixá-la cair totalmente desamparada no solo, que é o único a acolhê-la e a ensiná-la sobre as dores físicas do tombo. Já, também, com marcas emocionais profundas ouve o primeiro conselho de seu orgulhoso mestre: Nunca confie em ninguém. Nem mesmo em seu pai.

Mas estudos do diretor-fundador e professor de economia do Centro de Estudos em Neuroeconomia da Claremont Graduate University, nos Estados Unidos, Paul J. Zak, divulgados pela revista Scientific American, podem fazer com que os brasileiros passem a ser objeto da anedota. É que, segundo o periódico, levantamento internacional revela que os brasileiros são os que confiam menos.

Nos últimos anos, pesquisadores têm se esforçado para entender como o cérebro humano decide em quem confiar. Paul J. Zak revela que a oxitocina, “uma simples molécula ancestral produzida no cérebro, desempenha um papel fundamental nesse processo”. As descobertas contribuem para o conhecimento das causas e os tratamentos das doenças marcadas por disfunções na interação social, de acordo com o artigo.

O professor conta que “em 1998, Stephen Knack, economista do Grupo de Pesquisas do Banco Mundial do Desenvolvimento, e eu começamos a investigar por que a confiança entre as pessoas varia dramaticamente de país para país”. Sua conclusão é que a confiança pode ser um fator indicativo da riqueza de um país. Por isso, nações com baixo nível de confiança caminham para a pobreza. Isso porque os habitantes, desconfiados, se dedicariam menos a investimentos de longo prazo, que criam empregos e aumentam salários.

A oxitocina é uma pequena proteína, ou peptídeo, produzida no cérebro, onde tem a função de molécula sinalizadora – um neurotransmissor. Pesquisa com animais indica que a oxitocina facilita a cooperação em certos mamíferos, e que “um parente próximo”, a vasotocina, parece também promover interações amigáveis. Zak acredita que sinais sociais não-ameaçadores induzem a produção de oxitocina no cérebro e, portanto, se questiona “se nos humanos a abordagem de estranhos que oferecem sinais positivos pode estimular a liberação de peptídeos nos outros”. Segundo a revista Scientific American “está demonstrado que os níveis de oxitocina atingem o pico em homens e mulheres durante o clímax sexual. A sua presumida importância na afeição após o ato sexual rendeu-lhe o apelido de ‘hormônio do afeto’.”

Se a produção de oxitocina tem a ver com os sinais positivos emitidos pelas pessoas por que então os brasileiros são os últimos na lista que mede os níveis de confiança em diversos países? A considerar os fatos políticos e sociais dos últimos anos temos motivo de sobra para até zerar a produção do tal hormônio. Em tempos de eleições é bom ficarmos mais atentos, pois sobram sinais positivos de quem nessa época diz ser capaz de resolver todos os problemas e busca de todas as formas aumentar ao máximo o nosso nível de oxitocina. Mas pelo menos nesse momento temos que fazer valer o nosso novo estereótipo de os maiores desconfiados do mundo e procurar eleger quem realmente mereça a tão desejada confiança. Assim, passado o escrutínio, poderemos produzir ao máximo o peptídeo para que, se a premissa do estudioso estiver correta, se possa acreditar no país e fazê-lo crescer rumo à riqueza.


PESQUISA NÍVEL DE CONFIANÇA

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